E nem parece que semana passada fez onze anos que não tá mais aqui. Eu ainda lembro do ovo quente com sal, que comia na colherinha de chá, do marrom glacê que vinha dentro de uma lata, das Amanditas no fundo do armário, do Nescafé com leite na xícara vermelha, que tinha até a marca marrom do pó, das moedas guardadas em potinhos de geléia na primeira gaveta do armário do meio. Lembro do doce do bar do japonês, de assistir A Praça é Nossa nos sábados à noite, de me deixar brincar na rua escondida dos meus pais. Da bolsa de bolinhas, dos vestidos floridos, do cabelo preto e fininho, dos olhos bonitos. Lembro de me ensinar a costurar roupinhas pras Barbies, de me mostrar que na roseira do jardim tinham espinhos, de me deixar correr pela casa fazendo barulho no assoalho.
Meus dois enes são seus. Minha mania de colocar a mão no lábio o tempo todo é sua. Meu jeito fechado, de não falar nada pra ninguém, é inteiro seu.
Achei que depois de tanto tempo, eu não ia lembrar disso tudo. Achei que nem saudade direito eu teria. Me enganei.